Primeiro aparece a raiva, trazendo força, intensidade e brilho para o problema, depois uma tristeza escondida e envergonhada mostra-se aos poucos e esses dois sentimentos passam a se confundir. Um jogo de figura e fundo começa a ganhar o interior do indivíduo e torna-se emergente na superfície emocional. Ora, a raiva surge e vira figura, ora, a tristeza, vira fundo e vice-versa. Mais um pouco, a tristeza revela-se maior que a raiva e, logo uma verdade muito sincera surge: “eu tenho medo de perder e não gosto de perder. Não posso perder nada, nem ninguém. Tudo o que eu quero eu consigo”. Palavras e sentimentos que convivem conosco o tempo todo. “Se eu perder eu fico com raiva! ”

Perder o quê? Perder o que ganhei. Mas, o que ganhou? – Perder a alegria, o encontro, perder minha autoestima, perder o meu brilho. O medo de se perder de si mesmo é o medo de perder quem somos; de nos perdermos e nunca mais nos acharmos. E, quem está fazendo este autoconhecimento emergir: o Outro. Como escrevi no artigo “Limpeza Interior no deserto” na Revista Zen Family de out/16, o outro me espelha, me confronta, me desafia, me entristece, mas na verdade, o Outro sempre nos dá uma oportunidade de nos conhecermos.
Seria doloroso e de uma transparência agressiva, poder se ver inteiramente, ao invés desta forma indireta, que o inconsciente nos oferece através do encontro com o Outro. O Outro lhe mostra sua mentira, sua maldade, sua insegurança e seus vários eus. Vivemos com várias camadas mentais encobrindo nossos verdadeiros sentimentos, como se fossem camadas sobrepostas de uma cebola. Cada vez, que por meio da vida, fazemos contato com o Outro, uma dessas camadas é tocada e, muitas vezes, retirada, expondo e revelando sucessivas camadas de autoconhecimento. Como pouco conhecemos nosso verdadeiro interior, a irritação, a frustração, as tormentas emocionais tornam-se uma fonte invisível, entretanto, rica de profundo desenvolvimento pessoal.
Então, surgem as confusas reflexões: “Por que esta pessoa está fazendo isso comigo? ” Fazendo o que? Mostrando-me tão duramente quem eu sou também!
Faça um pequeno exercício interior regularmente: sempre que alguém próximo ou distante de você trouxer à tona sentimentos tão confusos em você, pergunte-se: Por que esta pessoa me incomoda tanto? O que esta pessoa está me ensinando? E, por isso, eu não estou gostando da lição?
E o tempo vai me auxiliar nesse processo?
O músico Dani Black canta “ Somente o tempo vai nos revelar quem somos. Estamos existindo entre mistérios e silêncios”. O tempo, na verdade, não causa nada, não retira e nem põe. Ele não age sobre nós, com esta propriedade física quase mágica tão esperada, pelo motivo, de estarmos no tempo. Ele é apenas uma testemunha silenciosa de nossos encontros e desencontros junto a vida como nos esclarece o psicólogo Jorge Ponciano(1999). O tempo é composto de momentos, mas não é o único elemento transformador.
Fontes: Ribeiro, Jorge Ponciano. Gestalt-terapia de curta duração. São Paulo: Summus, 1999. Carlos, Dani. Diluvio: Música Maior(Part. Milton Nascimento). Luz Azul CD. Faixa 11. 108Mb, 2015